terça-feira, 6 de outubro de 2009

Apresentação + Resenha - BUKOWSKI, Charles. Misto-Quente.

Olá, pessoal! Meu nome é Bruno e eu sou o novo contribuinte do Adubados. Não gosto muito de apresentações, mas vou dar um panorama da minha vida para vocês entenderem de onde vêm os textos. :P

No momento, sou graduando em História na UFRJ e estou me aprofundando em História Medieval Portuguesa. Faço curso de francês e dou aula em um Pré-Vestibular Social na cidade de Macaé, me deslocando com seis horas de viagem todo final de semana para lá.

Chega de apresentações, pelamor! Vamos direto ao que interessa. Por eu ter acabado de ler o livro em questão essa semana e ele ter me tocado bastante, farei uma resenha dele para marcar minha entrada no blog. Espero que gostem. :)

[AH SIM! Cuidado que tem Spoilers.]





RESENHA - BUKOWSKI, Charles. Misto-Quente.



Se eu pudesse resumir a obra de Bukowski em uma palavra, eu chamaria de "sub-literatura". Não existe o que tradicionalmente conhecemos por belo: aquela estética do século XIX está abolida em seus livros. Bukowski parece ter sempre uma preocupação de mostrar o submundo, o que a novela das oito do Manoel Carlos não mostra.

Primeiro li a obra entitulada Pulp. Interessante e, principalmente, divertidíssima. Seu vocabulário xulo, vulgar e cotidiano me chocou em um primeiro momento, mas lá pela décima página já havia me acostumado. Li suas 150 páginas em dois dias. Por indicação de uma pessoa muito querida (valeu, Nataly!), resolvi comprar o Misto-Quente na Bienal do Livro, aqui do Rio de Janeiro.

Na apresentação do livro, o tradutor, Pedro Gonzaga, diz: "Quem não leu Misto-Quente, não leu Bukowski." E realmente, sua atmosfera é totalmente diferente em relação a outra obra que li. Misto-Quente é, também, envolvente, devido a seu vocabulário de fácil entendimento, porém isso não retira da obra o alto grau de reflexão presente em suas linhas (e entre-linhas).

Em resumo, a obra trata da infância, puberdade, adolescência e pós-adolescência conturbada de um alter-ego do autor: Henry Chinaski é um pequeno imigrante alemão nos Estados Unidos da década de 20, filho de um pai autoritário que o faz apanhar constantemente, muitas vezes sem motivo. Sua mãe faz vista grossa e aceita as barbaridades do senhor do lar, não tendo voz para se opor. Isso faz o pequeno Henry se tornar um garoto recluso e de poucos contatos na escola, lugar que lhe passa uma representação de uma necessidade de ser um "cara durão". Ao crescer, ele vai se tornando cada vez mais "durão", sendo cada vez mais castigado pelo pai, pela escola e pelos seus "colegas" de classe. Enquanto cresce, mete-se sempre em brigas e bebidas, além de ser perseguido por professores preconceituosos e outros garotos tão desencaixados como ele.

Creio que toda a obra se baseia nisso: Henry Chinaski é um desencaixado. Porém, ele raramente busca se encaixar: todas as vezes que tentou (com amigos da vizinhança, nos esportes ou até em um grupo nazista da faculdade), acabou percebendo no final que isso não é pra ele. Mesmo com as mulheres, o adolescente Chinaski não pôde ter muito contato: teve um problema de acne fora do normal, criando feridas em todo o rosto, pescoço, costas, peito, o que o fazia ser um monstro, um Frankstein do século XX.

O protagonista acaba se encontrando nos livros, lendo uma literatura onde ele pode encontrar certa catarse: obras extremamente depressivas. No livro, a única que posso falar que conheço é Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski. Porém, os livros não tiram o autor de sua vontade de simplesmente desaparecer do mundo, apesar de lhe dar mais imaginação e vontade para escrever seus próprios contos.

Em meio a brigas, bebida e um ambiente totalmente deprimente, Henry Chinaski se forma como indivíduo. Difícil um leitor não sentir certo repúdio ao protagonista, mas por outro lado o sentimento de pena me perpassou durante toda a leitura do livro. E é com o Misto-Quente que a personagem vive: em minha opinião, uma metáfora para "o mínimo necessário". Sabia que seu futuro não reservava nada além de ser mão-de-obra barata e descartável em um mundo pós-Crise de 1929. Por isso, afogou-se em bebida e brigas, mas não por programar isso, e sim por ser levado a tais situações.

A cobrança em relação ao personagem é presente em todo o livro. Existe um modelo, um devir de cidadão que Chinaski deveria se colocar, mas as próprias "instituições" que requerem isso também tiram a possibilidade do personagem de sê-lo. Vide seu pai: o tempo todo o censura, critica, espanca, e por outro lado exige que ele seja feliz, que levante a cabeça e ria.

O livro mostra a degradação de uma pessoa, levada por diversos fatores: família, corpo, sociedade. Bukowski é brilhante ao mostrar o lado sujo da vida, um verdadeiro Dostoiévski de palavras de baixo calão e palavrões. Ao ler o livro, tenha noção que estará entrando em um discurso que não estamos acostumados a observar na literatura. Permeia todo o livro a questão sobre o sentido da vida e diversos discursos sobre isso. Não existe, ao final, nenhuma conclusão positiva por parte de Chinaski, logo, por parte de Bukowski.

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